Grupo
DISCURSOS

Discurso para  Academia Nacional de Farmácia   

Exmo. Sr. Presidente da A.N.F., Acadêmico Caio Romero Cavalcanti,

Autoridades citadas no protocolo, senhoras e senhores.


Quando a Academia Nacional de Farmácia indicou meu nome para integrar seu seleto quadro, confesso que, se me encantou, também não deixou de causar surpresa ter sido eu, um entre mais de milhares de competentes farmacêuticos brasileiros, escolhido para receber tão honrosa distinção.
Honra-me, sobremodo, ser igualado a confrades   de renome, como Gustavo Éboli, João Paulo Vieira, Mateus Mandú, Nuno Alvares Pereira, Lauro Moretto, Jaldo de Souza Santos, entre outros, que bem representam e dignificam nossa amada profissão.


Honra-me pertencer a esta Academia, que congrega os mais eminentes e destacados nomes da profissão, que tantas contribuições já deram para o crescimento e o reconhecimento da Farmácia brasileira, hoje muito bem presidida pelo Acadêmico Caio Romero Cavalcanti. Esta casa  tem sido, desde sua fundação em 1937, o centro dos grandes debates da ciência, das discussões das novas idéias, das necessárias soluções  e fonte permanente  de exemplos e serviços para  gerações de profissionais.


Honra-me saber que passo a ocupar a cadeira de número 84, cujo patrono é o ilustre farmacêutico carioca Manoel José Cabral, diplomado no longínquo ano de 1838, na cidade do Rio de Janeiro.


Foi ele, em 1840, um dos professores da pioneira instituição de ensino da Farmácia no Brasil e na América do Sul, a Escola de Pharmacia de Ouro Preto, onde assumiu as disciplinas de Botânica e Matéria Médica. A organização inicial da faculdade enfrentou grandes dificuldades como a falta de recursos para pagar seus professores. Interessados no ensino e na formação de novos profissionais, Cabral e Calixto exerceram suas atividades didáticas, de forma gratuita, durante longos 14 anos, até 1854, atitude que mostra, definitivamente, a importância de meu Patrono na história daquele pioneiro centro de ensino.


Em 1872, retirou-se da atividade universitária e continuou a exercer a responsabilidade técnica da conceituadíssima Farmácia Cabral, de sua propriedade. Ainda nessa época, eram escassos os estabelecimentos de farmacêuticos, predominando os práticos, aprendizes de farmácia, ervateiros e curandeiros, o que fez sobressair  a arte, o humanismo, o conhecimento e a obra exemplar do  imortal Manuel José Cabral.
A atuação do farmacêutico na sociedade brasileira, sempre de grande importância, passa, agora, a ser indispensável para a mudança do quadro atual de saúde e a busca de novas soluções. 


Temos muito o que fazer. As taxas de mortalidade infantil foram significativamente reduzidas. Reduções semelhantes ocorreram com a vexatória desnutrição infantil. 
Já eliminamos graves e antigos males, como a varíola e a poliomielite.  Conseguimos notáveis progressos no controle da tuberculose, do tétano, do sarampo e de outras doenças, com ações preventivas, pela vacinação.


O flagelo das mortes pelas gastroenterites foi drasticamente reduzido. Importantes avanços foram conseguidos, também, no combate ao Mal de Chagas e à esquistossomose. 


No entanto, ainda persistem graves problemas decorrentes das desigualdades regionais e sociais. Portanto temos muito mais, ainda, a fazer.
O aumento generalizado da obesidade; o crescimento de graves doenças crônicas, como a hipertensão, o diabetes, o câncer de mama e o de próstata; a epidemia de mortes violentas na população jovem das grandes cidades; as complexas relações entre saúde e trabalho; o surgimento e a expansão da AIDS, entre tantas outras, exigem nossa atenção e o melhor de nossos esforços.


Tenho dado o melhor de mim para a melhoria deste quadro. Sei que o que faço é pouco. É apenas uma gota no oceano. Mas também sei, como dizia Madre Tereza de Calcutá, sem dúvida, que sem essa gota o oceano seria menor.


Estou convencido que o lucro como única meta é objetivo pequeno para um farmacêutico moderno. Hoje, além de profissionais competentes, precisamos ser cidadãos conscientes inseridos na sociedade. 


Foi causa de grata surpresa para mim, receber o reconhecimento e a homenagem da Academia Nacional de Farmácia, por minha atuação profissional: livros, artigos, conferências, a criação da Farmácia Natura e do Museu Farmacêutico Moura. 


Recordo, aqui, o início de minha vida profissional, em agosto de 1978, com um estágio profissional na farmácia Van der Laan, sob a supervisão do grande farmacêutico Sérgio Lamb, a quem rendo, neste momento, especial homenagem.


Em agosto de 1980, fundei a Farmácia Natura, então, com 5 colaboradores, e receituário de 8 médicos. Hoje, em 2010, com moderna sede própria com mais de 1.000 metros quadrados, dirijo 70 dedicados colaboradores e tenho a confiança e o receituário de mais de 500 médicos.
Comove-me o carinho que tenho recebido ao longo de minha jornada, na busca pessoal por mais saber e constante inovação. Vivi intensamente todos os momentos de minha vida profissional, sempre com o desejo de servir, de ensinar, de produzir acertos, de vencer obstáculos. Exerço, diariamente, minha profissão com total paixão.


As dificuldades que enfrentei jamais me paralisaram. Ao contrário, converteram-se em desafios que me impulsionaram na direção de meus maiores êxitos, os quais enumero com alegria:  


Tenho sido destacado além das fronteiras do nosso Rio Grande, com dezenas de prêmios e homenagens, como o prêmio máximo conferido pelo Conselho Regional de Farmácia-RS, o Prêmio Dr. Sérgio Lamb; o prêmio máximo concedido pelo Conselho Federal de Farmácia, a Comenda do Mérito Farmacêutico; o de Industrial do Ano, oferecido pelo Centro das Indústrias de Pelotas; o de Comerciante do Ano, conferido pela Associação Comercial de Pelotas; por outros tantos  trabalhos exitosos  realizados, como o de implantar, de forma pioneira em Pelotas, a pesagem eletrônica de fórmulas; ao participar do relançamento da Homeopatia no estado; ao ser um dos introdutores  da terapia floral no Brasil e, mais tarde, da terapia biomolecular, entre nós. 


Outro ponto alto desta trajetória de vida, foi a criação do Museu Farmacêutico Moura, o terceiro do Brasil. Um museu dedicado ao resgate e à preservação da história da indústria farmacêutica, com  importante acervo de mais de 4.000 peças, aberto diária e gratuitamente a nossos concidadãos.
Galileu Galilei, grande sábio italiano e um dos maiores gênios da humanidade, ao discorrer sobre seus êxitos afirmou: -“Se enxerguei tão longe foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes”,- atribuindo assim, a seus antigos mestres, importante parcela de seu sucesso.


Não faço diferente.  Quero pedir licença aos confrades para compartir tão importante honraria com minha esposa Cláudia, minha inspiradora e mulher que encanta minha vida; com meus pais, que mostraram o caminho do conhecimento; com meus irmãos e meus filhos, que me ajudaram a percorrer o difícil caminho do sucesso profissional. Quero também homenagear aqui, emocionado, cada um dos meus antigos Mestres e colegas que, um dia, comigo escreveram as páginas de minha vida  e, em especial, ao Dr. Gustavo Baptista  Éboli, autor de minha indicação a este sodalício.
Antes de finalizar, novamente agradeço aos confrades de minha nova Casa, a Academia Nacional de Farmácia, o convite para aceitar o  gigantesco desafio de conviver com  os mais destacados, os  mais dignos e os mais capazes vultos da Farmácia de nosso país e, com eles, discutir os transcendentes desafios científicos e os problemas da nossa profissão.


Considero minha indicação, alta homenagem e gratíssimo prêmio.  Ser um Acadêmico constitui para mim, motivo de alegria, grande honra e insuperável recompensa. 
Grato.